Sapiência triste

Enquanto você aplaudir poemas medíocres,

Canções de amores comuns e a arte de um povo comum.... Serás feliz. Terás mil dentes para mostrar... A todo o momento,

Uma figura qualquer prenderá a sua atenção,

Um discurso de argumento parcos, irá te convencer.

Acreditarás que um vivente de uma esquina qualquer, tem dons especiais e que sua pregação poderá te salvar... Mas, quando puxares o véu e a clarividência te mostrar , o nu mesmo vestido... então, o teu riso cessará e não terás nenhuma porta de saída, tão pouco alguma te prenderá. Serás livre!

Finalmente a liberdade... Onde habita a tristeza.

Lidia Radke

quinta-feira, 1 de junho de 2023

 

Em homenagem ao Rio Doce - Um rio que foi contaminado pelo rompimento de uma Barragem, na cidade de Mariana em Minas Gerais.


PERDÃO, RIO DOCE

Perdoa rio Doce, perdoa!

Perdoa tamanha traição,

Perdoa meu doce Riozinho

Perdoa Rio Doce irmão.


Corrias, servindo sozinho

Água pra todos os bichos

chamavas as chuvas pra plantas

lavavas as bostas e os lixos


Perdoa Rio Doce ao homo

O homo não vive pelado

O sapiens precisa do cromo

e outros metais pesados


Aceita Rio doce, aceita

A lágrima e a dor do meu peito

Quem sabe uma prece ou os gênios

não limpem um dia, o teu leito

quem sabe em outros milênios

quem sabe, se tem algum jeito.


Lídia Radke



terça-feira, 30 de maio de 2023

 

OS DOÍDOS E DOIDOS - DA NOSSA LÍNGUA PORTUGUESA
Coisas doídas e doidas.
Comprar carne no carnê
e trocar o coco por cocô.
Encontrar um cágado cagado
Quando a falsa médica medica.
Quando a babá baba.
Quando a secretária quebra a secretaria.
Teimar que romã só dá em Roma.
Que seus pais não têm país.
Usar maiô só em maio.

Achar que uma sabiá não é sábia.

Discriminar o Pelé pela cor da pele.
Vender camelo no camelô.
Jogar no rio lixo que a fábrica fabrica.

Quando eu não valido o que é válido.
Que se amem só depois do amém.
Numa sexta sem direito à sesta fui trançar uma cesta.
A alta taxa sobre a tacha é o imposto.

O servo que maltrata o cervo.
Mesmo na cerração houve serração de árvores.
Não houve concerto, instrumentos estão no conserto.
Ao empossar, o vereador viu empoçar o palanque com água da chuva.
A pessoa mais vivida é mais vívida.
Ela bota a bota e calça a calça e sai.

E, assim a profetisa profetiza

… Eu não publico isso ao meu público….

– Lídia Radke



 

DISTÂNCIA!

Esperemos e olhemos o correr das águas?

Que só levam o que é leve

e vão as alegrias e ficaremos com as mágoas?

Tal qual as pedras, que o rio descreve.


O tempo não espera a nossa coragem.

Ele nos chama, indica e corre.

Nos cede suave e breve imagem,

que sorri, suspira e depois morre.


Oh, tempo e seus imuteis segundos

Enriqueceriam só com a tua presença.

Depois de você, me perdi no mundo

e sem você, prefiro a sentença!


Lídia Radke – 14 de Maio de 2023






quinta-feira, 25 de março de 2021

 

POEMA DE ESQUERDA


Dia e noite, e nas madrugadas de lua e frio,

paro, quando o cansaço do dia me vence

e sigo quando o sono fugiu…

e raia o sol e luto a luta, que me pertence.



Nascer viver e morrer deve ser o destino

Mas, ha os que nascem e têm uma longa morte

Sem bandeira, sem pátria e sem hino

A minha direita, a minha esquerda, no sul e no norte.



Com medo dos famintos, com seu ódio e fel

com medo, que lhes tomem as comidas e tesouros seus

Lhes disseram, que a fome e a dor abre as portas do céu

que devem orar, jejuar e serão amados por Deus.



E o pensamento da noite longa, sem efeito

só me induz de sair de mim e sentir o alheio.

Todos eles são da minha espécie têm minha fala, o meu jeito

Mas, agonizam a margem, aí que feio, ai que feio!



Maldito Planeta, criadouro de seres maus ?

Te quero azul, com paz justiça. sem exclusão !

Sem escola e oração, nos espreitarão com armas e paus

arrancando nos a vida, para comer o nosso pão.

Lídia Radke - 2018





terça-feira, 26 de janeiro de 2016

Fernando Pessoa criou vários heterônimos que são personagens poéticas com identidade própria e estes heterônimos também eram compositores.
 Os mais conhecidos foram: Álvaro de Campos, Ricardo Reis, Alberto Caeiro e Bernardo Soares. Todos estes, são Pessoa, a mesma pessoa. Fernando Pessoa.

E eis o que ele disse sobre seus heterônimos:
 “Com uma falta de gente coexistível, como há hoje, que pode um homem de sensibilidade fazer senão inventar os seus amigos, ou quando menos, os seus companheiros de espírito”
“Tudo vale a pena se a alma não for pequena” - Fernando Pessoa.

Vem Sentar-te Comigo, Lídia, à Beira do Rio
Vem sentar-te comigo Lídia, à beira do rio. 
Sossegadamente fitemos o seu curso e aprendamos 
Que a vida passa, e não estamos de mãos enlaçadas. 
(Enlacemos as mãos.) 
Depois pensemos, crianças adultas, que a vida 
Passa e não fica, nada deixa e nunca regressa, 
Vai para um mar muito longe, para ao pé do Fado, 
Mais longe que os deuses. 
 Desenlacemos as mãos, porque não vale a pena cansarmo-nos. 
Quer gozemos, quer não gozemos, passamos como o rio. 
Mais vale saber passar silenciosamente 
E sem desassossegos grandes. 

Sem amores, nem ódios, nem paixões que levantam a voz, 
Nem invejas que dão movimento demais aos olhos, 
Nem cuidados, porque se os tivesse o rio sempre correria, 
E sempre iria ter ao mar. 
Amemo-nos tranquilamente, pensando que podíamos, 
Se quiséssemos, trocar beijos e abraços e carícias, 
Mas que mais vale estarmos sentados ao pé um do outro. 

Ouvindo correr o rio e vendo-o. 
Colhamos flores, pega tu nelas e deixa-as 
No colo, e que o seu perfume suavize o momento -
Este momento em que sossegadamente não cremos em nada, 
Pagãos inocentes da decadência. 
Ao menos, se for sombra antes, lembrar-te-ás de mim depois 
Sem que a minha lembrança te arda ou te fira ou te mova, 
Porque nunca enlaçamos as mãos, nem nos beijamos 
Nem fomos mais do que crianças. 

E se (você morrer) antes do que eu e levares o bolo
Ao barqueiro sombrio.                                                  
    Eu nada terei que sofrer ao lembrar-me de ti. 
Ser-me-ás suave à memória lembrando-te assim - à beira-rio, 
Pagã triste e com flores no regaço.

 – Ricardo Reis – Heterônimo de Fernando Pessoa




Vejamos o que Lídia poderia dizer a Ricardo


             Resposta de Lídia
Ricardo.
Porque você não me enlaçou na beira do rio?
Estávamos às sós.
Quisera que a tua lembrança me ardesse e me ferisse
Do que não tê-la.
Por que não enlaçamos as mãos... Os corpos?
O rio passou e eu... Triste pagã com flores no colo...
Oh! Ricardo, não gostei sentar contigo à beira do rio
Sem sangue que pulsasse
E sem desassossegos
De olhos parados na água corrente
Qual dois doentes!  A que me convidastes!
És um Pagão decadente. Nunca mais me convide a sentar-me contigo à beira do rio.
És um homem de alma pequena e por isso com medo.
Eu, Lídia. Prefiro o Fernando que tem a alma grande e sabe que tudo vale à pena.
                                              Lídia Radke




            


sexta-feira, 29 de junho de 2012

O Ladrão



                  O Ladrão
Seis meses após receber o diploma, Adélia alugou uma sala naquele edifico alto e gelado. Dentista, advogados, psicólogos e até detetives montavam ali seus escritórios de iniciantes, na sonhada profissão. Adélia também. Naquele momento ela estava navegando em redes sociais à espera de pacientes... E a porta se abre!  Ai, meu Deus!
Não houve tempo para tentar entender o que estava acontecendo. O homem armado tapa sua boca e lhe sussurra desesperado que ela deveria ficar em silêncio, manda-a sentar enquanto ele se mete embaixo da mesa estilo antigo, daquelas fechadas que permitiriam um sério chefe sentar-se de paletó e cuecas sem ninguém perceber isso.
Em poucos segundos, novamente a porta se abre e os policiais armados perguntam se estava tudo bem. Adélia disfarça como atriz: balança positivamente a cabeça, com expressão indagadora sobre o que estaria acontecendo. Colocou uma ponta de temor nos olhos, quando o policial lhe disse que caçavam um ladrão.
Cinquenta mil dólares seria o pagamento para esconder o ladrão até que a poeira abaixasse. O dito era bonito e sedutor e, regenerado com duzentos mil dólares! ... Poderia ser um partido perfeito! Então valeria a pena tentar o processo regenerador. Nada tão difícil. Promessas de futuro, descrição sobre a vida na prisão, o risco de morte, tendo como aliada a bíblia e a sedução feminina que embora pouco desenvolvida... Mas teria que dar certo. “As pessoas não são más, elas não tiveram chance e acabam se perdendo por caminhos perversos...” Pensava ela.
Durante uma semana, Adélia levou comida, improvisou um canto com colchonete, cobertas, almofadas, escova de dente... Cuidava do seu segredo com pavor, paixão e esperança. Ela  garantiu ao fugitivo que não haveria nenhum perigo, que ele poderia até levar a mala com o dinheiro e caminhar de cabeça erguida, cumprimentar o porteiro e caso ele quisesse, poderiam sair de braços dados, seria mais perfeito ainda! Tudo estava calmo, mesmo assim, o ladrão decidiu por mais uma noite e então partiriam. Como despedida do seu refúgio, ele pediu um vinho Romanée Conti e uma tábua de frios.
Durante duas semanas ela aconselhou, orou e fez sexo intenso. O ladrão se transformou em um homem encantador, prometeu amá-la para sempre, disse que deveria fechar seu escritório e ir com ele para a Argentina na região de Mendoza, onde comprariam um vinhedo aos pés da Cordilheira dos Andes e lá tocariam uma vinícola.  Todas as tardes sentariam em um banco de pedra para apreciar o por do sol ao sabor de um vinho especial.
Com o coração palpitando ela chegou ofegante com o peso de duas malas o vinho e os queijos para compor a tábua.
Abriu a porta tomada de uma emoção que jamais sentira na vida, mas imediatamente sentiu o frio do vazio! O seu escritório estava silencioso com uma atmosfera de adeus para sempre. O seu delicioso ladrão não estava mais lá, ela ainda correu para o banheiro com um fio de esperança, mas apenas o ruído silencioso dos pingos d’águas que caíam do chuveiro recém-desligado, o cheiro do seu shampoo e a toalha molhada no chão, sobre a mesa antiga um bilhete dizia:  “Como um bom ladrão, fui obrigado a roubar os cinquenta mil dólares que lhe paguei pela proteção. Sinto apenas não ter apreciado o vinho e os queijos e não posso dizer que ficará para uma próxima vez porque não haverá a próxima vez. Adeus”
Adélia desapareceu. Um conhecido a teria visto pela última vez no aeroporto, comprando uma passagem para Mendoza.
Lídia Radke

domingo, 22 de janeiro de 2012

MINHA POESIA

DISTÂNCIA!

Esperemos e olhemos o correr das águas?

Que só levam o que é leve

e vão as alegrias e ficaremos com as mágoas?

Tal qual as pedras, que o rio descreve.


O tempo não espera a nossa coragem.

Ele nos chama, indica e corre.

Nos cede suave e breve imagem,

que sorri, suspira e depois morre.


Oh, tempo e seus imuteis segundos

Enriqueceriam só com a tua presença.

Depois de você, me perdi no mundo

e sem você, prefiro a sentença!


Lídia Radke – 14 de Maio de 2023




E... SE DEUS FOSSE DEUSA?

Se, Deus fosse Deusa,
Os dez mandamentos teriam sido bordados numa toalha e não esculpidas na pedra.
Se Deus fosse Deusa, As guerras seriam menos violentas e,
com certeza, poupariam as crianças.
Se Deus fosse Deusa, A salvação viria de Jesuína
e ela teria sido costurada na cruz e não pregada.
Se Deus fosse Deusa talvez Buda seria menina,
Maomé seria Maomélia
e os Anjos seriam Anjas.
Se Deus fosse Deusa, O preceito do nono mandamento seria:
Não cobiçarás o homem da tua próxima”
E se Deus fosse Deusa, talvez teríamos onze mandamentos ao invés de dez.
E o décimo primeiro seria: “ Homem, Não olharás para outra mulher, estando ao lado da tua"
E a oração do dia seria “ Mãe nossa, que estás nos céus…
Não seria lindo e aconchegante ! ?
FELIZ DIA DA MULHER ! Lidia Radke




O Improvável Possível

Era uma vez uma jaca verde. Enorme!

Madura... Caiu do pé.

Mas ninguém a comeu. Nem homem nem bicho ...

Os dias passaram e uma bactéria surgiu.

Logo outra e outras...

Multiplicaram-se!

Viraram milhares!

Comiam da jaca e aumentavam...

Assustadoramente!

Tiveram que se organizar.

Formaram colônias,

Criaram leis...

Leis de bactérias.

Tinham famílias, ritos e até chefes.

Tudo funcionava microscopicamente bem.

Algumas bactérias, as mais espertas,

Descobriram outras matérias ao lado da jaca que habitavam

E migraram para lá.

Mas a maioria acreditava que nada mais existia além daquela jaca

O tempo passou e a jaca apodreceu.

E, todo aquele mundo bacteriológico organizado sumiu.

Quem garante que você e eu não somos bactérias

E que o mundo é apenas uma jaca?

Lidia Radke

Além de nós

Oh! Universo, que outras vidas escondes?

Quais suas essências?

Talvez seus corpos materiais sejam de gases,

Talvez só de ossos,

Ou uma espécie de celulose...

Comeriam massas, carnes ou frutas?

Beberiam alcooloides?

Teriam vícios?

Fariam sexo?

Sentiriam frios?

Dores... Amores?

Comunicar-se-iam?

Como?

Talvez balancem os rabos,

Poderiam ter rabos, não poderiam?

Quais suas leis?

O que farão errado e o que farão certo?

Quais suas drogas mais abomináveis?

Talvez fiquem ao lado de um monte de excremento

Por muitas horas __ com os olhos fixos...

Alguns conseguiriam largar o monte

Outros morreriam ao lado dele...

E por que iriam a esse monte de merda?

Por curiosidade, más companhias, solidão e outros seus motivos ...

E... Toda sociedade de bem talvez balance os rabos,

O que poderá significar: “o monte, nem morto!”

Talvez outros digam: “não dá nada, eu vou lá... olho para o monte e paro quando eu quiser.”

E alguns diriam: “é mais forte do que eu! Preciso ver o monte!”

OH universo! O que você esconde?

Talvez não escondes nada, além de nós, Somos a tua vergonha.

Onde já se viu, beber, cheirar, roubar, matar.

Ser humano? Melhor ser bicho.

Lidia Radke

Círculo vicioso

Certa vez, um velho,

Quis mostrar-me o caminho.

Há muito tempo,

Em outros ventos

Não confiei,

Fugi da lei.

Disse-me ele, tão convencido!

__ Não terás pedras, nenhum perigo!

Não confiei e lhe disse: __ Eu sei.

O velho homem perdi na mata.

E segui sozinho

O meu próprio mapa.

Corri,

Lutei,

Sorri,

Busquei,

Achei,

Perdi ...

Cheguei. Em fim.

Tão fatigado!

Estraçalhado,

Meio ferido,

Meio sarado,

Com dó de mim.

Pensei: Venci!

Foi então que eu vi o velho homem,

Num trono lindo!

Me olhando e rindo...

Disse-me assim: __ Lhe ensine os passos.

__Indicando a alguém

Era um menino atrás de mim

Eu entendi e também tentei,

Mas o menino, senhor de si

Disse-me: __ Eu sei.

Lidia Radke

Males dos Mundo

Pai! Afasta de mim esses males, Pai!

De preconceitos gigantes!

Quanta pobreza em mentes tão pequenas

Quanto vazio dentro desse peito

Meu Deus, porque não varreis para sempre

Entre as nações tanto preconceito ?

Quero que fique aqui registrado.

Que a igualdade é um direito nosso.

Sejamos brancos, pretos ou amarelos...

Ficar de fora, isso eu não posso.

O preconceito é um crime insano

Comportamento de quem é pequeno.

Sou diferente mais eu sou humano,

Não me rotules com o teu veneno.

Honre o teu jeito, gosto, tipo e credo.

De paradigmas pré-estabelecidos,

Também me chocas, mas eu não te nego!

Dois diferentes podem ser amigos. - Lidia Radke

Bate-Papo

Prefiro as conversas de velhas raposas.

Experientes,

Astutas...

Ainda que erradas,

Ainda que pecadas,

Adversas, atraem

Os fora-da-lei

Sabem muito mais!

Mais que eu,

Mais que os legais.

Com pena no peito,

Suporto o enfastio,

De um papo sombrio:

“Meu médico me proibiu....

“Me deu uma dor...”

“Senti um frio...”

“Cê viu a novela?”

“Meu marido adooooora chá de canela...”

“Mulheres sorridentes, mulheres “felizes”.

Tagarelas, estridentes...

Homens torcedores...

Camuflados em heróis onipotentes

Limitados seres.

Medíocres viveres.

Concordo, sorrio e penso:

Meu Deus como eu penso!

Prefiro os devassos,

Os loucos,

Os insatisfeitos,

Os poucos...

Aos crentes que acham tudo certo

Diante do caos.

Lidia Radke

Coluna Social

Quão sensacional é aquela página do jornal!

A “Coluna Social”

Sorrisos doces,

Ora autênticos,

Ora sexys.

Elegância, jeito de ser, presença marcante...

É assim que se escreve

Sobre essa gente.

No fundo é nada

É só fachada, é roupa alugada...

Ainda que pareçam “jacaroas”

Cheias de tédio porque vivem á toa

Na página, são rainhas

São fadas;

São princesas...siliconadas

De pele esticada.

Lidia Radke

Um cara

Eu conheço um cara,

Persona mui rara!

De pouca valia,

Até se diria.

Raro bate palmas,

Raro diz amém,

Sem ter gêmea alma,

Muito só e sem.

Se todos aplaudem a um ato comum,

O cara recusa,

Em ser só mais um.

Doutrinas, não prega

Nem nega,

Rejeita,

Aceita,

Sorri...

Não cede às campanhas,

É rês desgarrada,

Da grande manada

Qual não acompanha.

E sem parceria

Nesta excelência

O cara se fecha, Em sua magnificência!

Lidia Radke

Mulheres e Mulheres

Bondosas mulheres

Entregaram suas almas e corpos a Deus.

Foram puras e santas

E zelavam os seus.

Acalentavam amores eternos,

Enquanto bordavam e temiam infernos,

As nossas avós!

Como invejariam a nós!

Maldosas mulheres

Que se entregam ao homem do bem-me-quer

Somos amantes, esposas, amigas, mães e aquelas...

Enfim, mulher!

Zelamos os nossos também

E amamos eternamente

Enquanto o final não vem

Somos “comidas”

Mas, “comemos” também.

Lidia Radke

Dia Internacional da Mulher

Mulheres ! Nesse dia, que vos deram

Vos dizem: rainhas, guerreiras, flores perfumadas...

Ainda que tenham odores que espantam

Mas dizem que encantam.

Mulheres de todos os cantos

Dos cantos escuros também.

Quem são vocês?

Criaturas que colhem sementes

Com um estranho prazer entre as pernas

E aumentam os povos.

Lidia Radke

Receita de Mulher

Pega-se manteiga, ovos e um pouco de queijo

e faz-se o cabelo louro.

(Quem preferir cabelos castanhos adicione um pouco de caviar do Báltico.) Com duas azeitonas gregas faz-se os olhos.

Com um pouco de carne branca e duas xícaras de leite faz-se os seios.

Com raspas de cenoura faz-se as unhas.

Com ostras e grãos de romã faz-se o sexo.

Coloca-se em leito morno e vai-se virando lentamente até atingir o ponto. Come-se com um pauzinho.

Millor Fernandes

Receita de homem (Resposta a Millor Fernandes)

Mistura-se bem direitinho

Charme, inteligência e carinho

Um pitada de humor

Cheiro. (não verde) e calor.

Algumas gramas de safadeza no rosto

Pelos no peito... A gosto

Mexa bem. (sem colher) no pau

E espere a massa crescer

Põe em forno bem quente

Coma, como se come gente.

Lidia Radke

DECRETO-LEI AO POBRE HOMEM

As mulheres têm leis de amparo,

As crianças têm leis de amparo,

Os adolescentes,

Os idosos...

Todos são lembrados com dias

E protegidos por leis

E o homem?

O homem que deixou de ser adolescente

E ainda não é idoso

Quem o protegerá?

Deixam-no ao “Deus dará”

Pobre criatura!

Exigem dele a obrigação de ser forte,

Corajoso,

Imbatível,

Potente...

Tomam dele o direito às fraquezas humanas!

Que fique decretado:

Que todo homem tenha o direito de chorar,

De ter medo,

De ser bobo,

De querer colo...

Que fique decretado:

“Todo homem tenha o direito de broxar!”

Lidia Radke

Mamãe, eu quero casar!

Com um homem forte !

Que eu me sinta menina.

Que me dê ordens, me dite a sorte

Mas, me põe no comando,

E que eu trace sua sina.

Que tenha requinte, às vezes ... Profano.

Que seja erudito, mas diz palavrões.

Que goste Caetano

E compreenda Camões.

Que seja menino, menino pequeno.

Que me põe senhora, que me tenha respeito.

Que pareça casto, mas de certo obsceno.

e... Que mexa direito

Talvez o perdi, talvez não exista

Minh’ alma par – que tanto procuro,

Nos bares, nos bailes, na rua, na lista...

Quero encontrá-lo. Eu juro !

Lidia Radke

Esposa
Enjoei desta cozinha,

Das panelas, da farinha,

Desta louça, e suas figuras,

Com mulheres ouvindo juras

Em longos trajes, leques e luvas

Entre pilares envoltos a uvas.

São riquezas da vovó !

Quem herdou foi minha mãe

E as deixou pra mim sem dó

O que farei com esta tralha?

Tão pesada e me atrapalha,

Imposta por meu passado.

Casamento, boas maneiras,

Religião sem feiticeiras

Ser exemplo para os filhos

Plantar rosas, malmequer...

Chega!

Afrouxarei meus espartilhos

Eu só quero ser mulher!

Lidia Radke

O Incrédulo

Agora, o vento assopra ao meu ouvido.

Coisas estranhas, que até duvido.

Que o brasileiro só foge à luta

Que aquela freira, antes foi ... ,

Que aquela santa não faz milagre

Deve ser “coisa” de algum padre.

São tantas coisas que eu desconfio

Depois que o vento me descobriu.

Todo discurso é anti-ação

O que eles dizem... __ não creias não.

E esse vento que me balança

Vai me induzindo à desconfiança,

Com sua voz:

“__ Questione sempre! É o teu dever de ser pensante”.

Oh vento! Não me descobre,

Quão complicado é saber!

Queria mesmo é ser pobre

É tão simples, apenas crer.

Lidia Radke

O Poder

O poder ainda que podre,

Traz perfume à que o detém

Mas, empesteia o ar,

Dos bons, aqueles,

A quem o poder não convém.

Mesmo assim por onde passa

Arrasta,

Tantos,

Em mesquinhas intenções,,

De angariar para si e seus

Parte daquilo

Que o “perfumado” possui.

O poder ainda que podre

Tem cara de necessário.

Precisam da mão que impõe

Os tantos fiéis otários

Precisam da mão que “ajuda”

Da voz que manda calar

Da permissão à uma fala muda,

Do comando, precisam ...

E, por tantos assim existirem

É que o podre poder existe.

Muitos reclamam,

Alguns ficam tristes,

Ninguém faz nada,

Todos votam.

Lidia Radke

Pátria amada

Oh! Pátria amada!

Idolatrada!

Mãe gentil...

Continuas sendo amada, idolatrada

Embora, pouco gentil

Mais pareces uma mãe desnaturada,

Que descrimina os filhos.

Alguns tu afagas, acolhes, alimentas...

Outros, abandonas com fome ao relento

Oh! Pátria amada!

Salve, salve... Sem rodeios

__Foi nisso que te transformamos

Os teus filhos malcriados,

Os brasileiros

Lidia Radke

História Infantil

Sua história foi curta,

Comum e sem graça.

Era filho da senhora “mãe pobre”

E do senhor “ignorado”.

Não ganhou presentes, passeios...

Nem abraços.

As únicas portas que se abriram para ele

Foram as portas da escola

Ele até entrou... Mas, virou as costas para a sua única salvação.

Depois vieram as drogas, a polícia, os bandidos e a morte.

“Eta vidinha a toa”

Lidia Radke

Alegria, Alegria

Fostes posto nesta vida

Onde há ventos contrários.

Em meio a lindos cenários

Caracterizaram-te: “alegre”

Teu caminho é brilhante

Mas a emissão não é sua

Caracterizaram-te: “alegre”

É melhor para esta rua.

Entre partidos e planos

E presidentes fulanos

Caminhas entregue.

E... Caracterizaram-te: “alegre”

De tanto ver

De tanto não ler

De tanto ouvir

Cansas-te. Melhor é rir.

Viestes de vãos amores

E teu peito também os tem

Sonhas flores e cores

E plantas “alegres ninguéns”

Nesta rua, não tem escola.

Apenas pontos e botecos

Vendem “balas”, “coca”. “Cola”

Alegres corpos objetos

Uma canção te embala

Sem adereço, sem endereço...Sem paradeiro

Mas, quem quer te encontrar?

Alegre brasileiro.

Lidia Radke

Mudando o Destino

Nasceu de madrugada e o chamaram

Não teve pediatra nem exame do

Chorou a noite inteira, ninguém teve

Não teve mamadeira nem um peito

Cresceu de teimosia ou então por Deus

Sem muitas alegrias nem brinquedos seus

Amou desesperado a esse tal de pai

Que lhe deixou sozinho com a palavra ai.

Chegou a uma escola pois queria ler

Dois livros na sacola ele veio a ter

Sentiu que sua chance só estava

Tão simples e ao alcance feito a sua

Meninos revoltados querendo bater

Não quis perder seu tempo e tratou de ver

Sorriso contra o vento e ele pode crer

Que um sábio e grande homem poderia ser

Lidia Radke

Moradia

Pra não sentir o frio do vento.

Morei na caverna e na gruta

Meu raciocínio era lento

Minha fala era bruta

Minha tinta era sangue,

Meu corpo em pelos sem vestes

Meu gosto tão rude e parco

Minha arte era rupestre

Na companhia do tempo

Meu pensamento acionei.

Dominei os meus instintos

Cozinhei minha comida

Tomei banho, fiquei limpo

E sonhei com a minha casa

Mas a proteção ao frio, à chuva e ao calor

Já não me bastam

Quero ir além.

Quero sentir e ver

E ver me faz sentir

Meu gosto refinou, é bom.

Decoração já não basta.

Quero arte. Lidia Radke

“Deprê

Num desses dias em que se chora em vão,

Quando as esperanças e sonhos se vão,.

Eu me sentia engolida por uma vão

De camisa sem manga,

Num amarelo-manga,

Molhado de chuva de manga.

Vi que estava em desalinho,

Botei o meu terno de linho,

E de cigarro...Nesse alinho.

Fumo, mas não trago,

Comigo nunca os trago,.

Pois custam mais que um trago

E, já parecia estar bem,

Pra quem perdeu o seu bem,

O meu maior bem.

Esbarro em sinais de alerta,

Por gente querendo oferta,

Entro numa porta aberta,

Música chamada som,

Que na verdade barulhos são,

De enlouquecer quem é são.

Vou pra casa,

Comigo não casa,

A atmosfera desta casa.

Tudo são experiências,

Que falam num momento mudo,

Dando a consciência

De que eu sobrevivo a tudo.

Lidia Radke

Era uma vez...

Era uma vez um homem,

Muito sério!

Muito trabalhador,

Muito competente...

Muito sério!

Ele morreu de dor de barriga.

Era gastrite,

Que virou ulcera,

Que virou câncer.

Que sina triste!

Comentou indignado, um outro homem.

Muito alegre !

Um pouco competente,

Um pouco trabalhador,

Muito alegre!

Lidia Radke

O Pescador (Prêmio de Primeiro lugar em concurso literário)

Pesquei um peixe somente

Dormi na areia macia

Sorri e olhei o mar

Dá-me pena dessa gente

Que morre de trabalhar

Acaso querem que eu pesque

Bastante, para vender

Que eu faça algo que preste

Além de pescar pra comer.

Ganhar dinheiro aos montes

Comprar barcos e navios

Conquistar horizontes

Aumentar os meus brios

Que eu contrate por fim

Um gerente de confiança

Que se estresse então por mim

Cuidando a grande herança.

E tendo apodrecido

Pois podre de rico se diz

Poderei dormir e folgar

E serei um homem feliz

Acaso não veem os homens

Que o sol é meu

O mar é meu

E a areia é macia?

E ninguém, come mais que um peixe por dia.

Lidia Radke

Destino Inútil

Fostes o senhor do pão de alguns

Ganhastes a coroa de pedras azuis

Ouvistes o teu nome em coro

Aplausos pela tua passagem de nobre

Todos os teus pertences banhados a ouro

Mas tua alma pequena e pobre

Festas de velhos vinhos

Luzes em tom lilás

Mas nenhum show de passarinhos

E nenhum arco-íris fugas

__ Que oferta nua!

Sem tardes de outono

Sem noites de lua

Sem chuvas

Sem ventos

E sem cura pros males...

Então, o que tens para dar, companheiro?

__ Dinheiro, dinheiro, dinheiro...

__ Que pena! Não vale.

Lidia Radke

Futuro?

Nem sabemos se vamos dançar a valsa

Nem mesmo se haverá orquestra

Para que, pois, ensaiar os passos?

Melhor mesmo é a dança sem coreografia

Melhor mesmo é não prometer amor eterno

E amar todos os dias

Para que encher celeiros e temer invernos

Se o frio congela as dores?

Estamos sozinhos na noite escura

Porque queremos

Afinal, temos uns aos outros .

E cada qual a sua lanterna .

Lidia Radke

Meu amigo poeta

Meu amigo poeta

Queres que o mundo o compreenda?

Tola pretensão

Você fala noutra língua

E prega o abstrato... Os sentimentos!

Para uma massa incrédula que precisa tocar

Sentir na mão,

Guardar na mala

No cofre...

E como trancar a poesia em cofres?

Ela foge, escapa..

A procura de ouvidos.

Então não a querem

Preferem o ouro e a prata

Ainda que surdo e pesado.

Meu amigo poeta

Não quisestes o garimpo,

Então serás incompreendido.

Lidia Radke

Sem título

Talvez a liberdade seja uma mentira

E o meu sangue apenas água vermelha

E então não pulsaria e nem grades me incomodariam

Talvez...

Mas, tenho o fogo no sangue

E o vento no peito, numa eterna procura!

E enquanto eu não encontrar

Estarei sempre buscando um caminho novo

E o meu peito a beira de uma explosão.

Lidia Radke

Genealogia

Certidão de nascimento do meu tataravô Silva

Certidão de óbito do meu tataravô.

Certidão de nascimento do meu bisavô Santos Silva

Certidão de óbito do meu bisavô

Certidão de nascimento do meu avô Oliveira Santos Silva, ladrão de cavalos

Certidão de óbito do meu avô.

Certidão de nascimento do meu pai Von Braun Silva

Certidão de óbito do meu pai.

Minha certidão de nascimento Von Braun Júnior

Certidão de nascimento do meu filho, Juninho Hacker

Ele “puxou” o bisavô .

Lidia Radke

Poemeco pobre

É segunda feira cedo!

Dia do cabisbaixo coletivo

Com pouca vontade e com medo

Você destila teu eu negativo

Querias estar nas montanhas

Sem chefe, sem carro, sem dor...

Ou num voo para Alemanha

Ao lado de um grande amor!

Acorde! É segunda feira!

Pode ser um dia feliz

Pare de pensar tanta besteira

O sinal abriu... Tire o dedo do nariz!

Lidia Radke

Conversa de bar

Minha amiga,

Do canto especial desse peito!

Desse peito que, não sei o porquê, resolveu bater mais forte

Com singularidade, faz-se a minha parceira:

Nas prosas filosóficas,

Na busca do autoconhecimento,

Na discussão sobre as bruxas e seus poderes,

Se o universo expande ou contrai

Na descrição do homem ideal...

Te empenhastes.

Me empenhei.

A descobrir o que queremos.

Esforços em vão.

E como sempre

Acabamos nesse riso desatinado e lacrimejante

Debochadamente gostoso, maldizendo aos homens,

Numa homenagem cheia de gratidão,

Pelos momentos de glória, prazer e amor...

Que unicamente eles podem proporcionar.

Minha amiga:

Peça a saideira

O garçom quer dormir

Amanhã é segunda-feira.

Lidia Radk

O Pote Chinês

“O pote tanto vai à bica, que um dia lá fica”

Esse pote chinês veio, veio, veio...

Mas não ficou.

Quebrou? __ Talvez.

Trincou, se tornou vaso?

A bica, não fez caso.

Continuou jorrando água cristalina

E o pote, no fim voltou pra China;

Onde ele nada vale.

Lidia Radke

Vida

Cá estamos neste barco

Chamado vida

Numa maré, ora mansa, ora alta...

No mesmo ponto de partida.

Senhor dos ventos e do mar!

Por que estou a remar?

Por acaso ou por azar ?

___ Remas por euforia

Mas, remas mesmo, por teimosia.

Descobrir o sentido da vida

É o nosso maior desafio.

Pergunta que é feita

Enquanto não percebermos

Que a felicidade é o equilíbrio constante

Entre a dor e a satisfação.

Explosões de euforia, são armadilhas

Que a tristeza coloca diante da sua porta

Para que entres e chores.

Lidia Radke

Homem Bobo

E o menino espera, na certeza

Que grandes coisas aconteçam

Namorar Ana Tereza

Tão logo as barbas cresçam

Vive em inútil esperança

Por muito que não acontece

Todo dia! Não se cansa

Pra ajudar: Uma prece

E o menino (já nem tanto)`

Às vezes até em pranto

Pergunta: __ Meu Deus por quê?

As coisas que espera em vão

Estão todas em suas mãos

E ele não faz acontece

Lidia Radke

Poema do café

“Café com pão

Café com pão

Café com pão”

Foi assim que Bandeira definiu

O som das locomotivas à vapor

Café!

Café nosso de cada dia!

Será que temos consciência

Da sua real importância?

Talvez...

Mas talvez pensemos que não seja tão importante.

Que passemos sem ele, se for o caso

Não mata fome

Não custa caro

Está sempre ao nosso dispor

Em qualquer lugar

Um chazinho

Um xarope

Um suco quente...

Ou sei lá em qual categoria dos líquidos ele se enquadra

Talvez não se enquadre

Por ser único

Simplesmente singular

O nosso café!

Respondam:

Nada mais tentador

Irresistivelmente

Aconchegante

Que um convite para um cafezinho.

“___ Vamos tomar um cafezinho?” Café com pão, café com pão, café...

Lidia Radke

Minha filha Indira

Embalei-te em meus braços

E ouvi tua fala de choro e risos

Cresceram cabelos, molares e sisos

E pela mão te levei.

Fiquei de joelhos para beijar-te o rosto

Inclinei o corpo num abraço

Caminhamos lado a lado

E hoje nas pontas dos pés te beijo.

Você cresceu, ficou moça,

Você mudou, tens teus sonhos,

Nos conflitos ainda chora.

O que não mudou, mas cresceu,

É o nosso amor.

Amo-te como criança, mesmo tu sendo senhora.

Lidia Radke

Minha Filha Huanita

Baton que passa,

Retoca e reboca.

A boca rosada de rosa formosa.

Os olhos...

Brilhantes demais!

Diamantes?

Ou contas?

Ou gostas?

Cristais...

Senhora tão dona,

De si e de tudo,

Parece mulher.

Menina chorona.

Que sabe e não sabe , as coisas do mundo

Mas sabe o que quer.

Que corpo sem molde!

Tão levemente se nota

A graça que brota.

O peito palpita, mas reage felino:

__Que estranho! Não gosto.

Odeio menino.

Lidia Radke

A VÉSPERA

Não espere que o dia D seja bom.

O prazer terás na véspera.

Aproveite!

A expectativa é a melhor parte

Os fatos em si não têm graça

Excitante é a véspera da festa

Do domingo

Do encontro

Da lua-de-mel

Do natal

Do ano novo...

Esperar pela alegria

É a felicidade

Espertas são as mulheres que passam a vida esperando o príncipe encantado,

Achá-lo é perder o encanto.

Lidia Radke

SE EU FOSSE UM PADRE OU UM PASTOR

Se eu falasse em Deus em nome de qualquer religião

Mandaria o povo cantar, Pregaria a liberdade

Gritaria dos púlpitos:

---Libertem-vos da culpa!

Da opressão!

Do medo!

De empregos que sufocam!

De casamentos falidos !

Dêem as costas aos amigos oportunistas!

As religiões que se vendem !

Através de ofertas, dízimos, relíquias, amuletos e outras espécimes!

Dêem as costas às que prometem bênçãos e sorte em troca da filiação!

Libertem-vos do Deus que castiga!

Abracem as coisas nobres!

Aquelas que dão sentido!

Abracem a certeza de que estão aqui por uma missão!

E cumpram-na

Com muito amor a todo próximo.

O pai, o irmão, o vizinho, o colega, o cão, a árvore, o rio, o pássaro, a formiga, o vento, a chuva...

Só assim estarão perto do Deus verdadeiro!

Lidia Radke

Dizia, meu pai:

Se todas as árvores fossem uma,

Se todos os rios fossem um,

Se todos os machados fossem um,

Se todos os lenhadores fossem um,

E, esse grande lenhador pegaria esse grande machado.

E cortaria essa grande árvore que cairia nesse grande rio...

Que tal o estrago? H a há há há .....

Lidia Radke

Relatório – Viagem á terra

__ Como está a terra soldado?

__ Os terráqueos simplificaram e facilitaram suas vidas. O planeta está cheio de colônias onde eles se abrigam e as colônias são ligadas umas nas outras por passadeiras por onde trafegam com máquinas automotivas.

__Da última vez que lá estive, um dos grandes chefes era um tal de Nero, ele continua por lá?

__ Não ouvi nada sobre este, mas acho que o maior de todos no momento, é um certo Obama, eu acho. Tem outros , mas este parece ser o mais famoso.

__ Eles continuam se matando?

__ Continuam.

__ Por esporte em arenas, um contra um? Coisa horrível!

__ Não. Nas arenas, agora são doze contra doze. Não se matam, ao contrário existem regras de proteção. Todos correm atrás de um objeto esférico o qual tocam com os pés, fazem-no rolar de forma que este entre numa espécie de portal, onde tem um guardião. Mas se este guardião não proteger o portal e o objeto esférico entrar... A plateia vibra.!

__ A plateia vibra!? Sem morte e sem sangue? Apenas com um objeto redondo que cruza um portal? Quem diria!

__ Tem um que foi até aclamado rei, por que sabia como ninguém rolar este objeto. Acho que o nome dele é Maradona... Não, desculpe, não é esse o nome, é... Pelé! Isso mesmo, Pelé!

__ Rei? Por brincar com uma bolinha? Esses terráqueos!

Lidia Radke

“Poetar” é preciso

Poema, paródia, soneto...

Parece até masoquismo!

Verso, estrofe, terceto...

E diz se: “__ Poetar” é preciso!

Procure esquecer esses tais

E as regras do tido padrão

Pra que luxos gramaticais ?

Se com P escrevo Paixão!

Se te falta vocabulário

Use aquele que é teu

Não se encontra em dicionário

A emoção que Deus lhe deu.

Fale de amores eternos,

Pense como adolescente,

Primaveras e invernos,

Estrelas e sol poente.

Tem poeta que diria: mácula,

Você pode dizer sujeira.

É como vampiro e Drácula

Igual, mas de outra maneia.

Busque os teus sentimentos

E um pouco de idiotismo.

Pois mesmo contra o vento,

Lhe digo: “Poetar” é preciso.

Lidia Radke

História do Brasil ( Prêmio de primeiro lugar em concurso literário - período -1990)

“Diretas já” blá blá blá, blá blá blá...

Privatizar! Sim sim sim... não não não...

Impeatchment já!

Blá blá blá, blá blá blá...

Presidencialismo

Parlamentarismo

Lismo, rismo, ... sinismo!

Dim dim dim, dom dom dom...

Constituição, revisão...

Adolescência!

Violência!

Indescência... todo dia!

Criança esperança!

ECA que utopia!

Blá blá blá, blá blá blá...

PMDB, PC, PSDB, PT..

P de povo

Sem terra

Sem educação

Na guerra

Pelo pão!

Lidia Radke

Professor

Tens nas mãos o futuro das gente !

Rebeldes, bloqueados, comportados, marotos...

Ávidos, independentes, dependentes garotos!

Poucos passos de um caminho comprido

Indicas, explicas, estruturas,

Para o que tem que ser cumprido

Processo Ensino X Aprendizagem

Viajem coragem!

Que permitam

Governos, prefeitos

E farás bem feito

És mãe, palhaço, psicólogo, ator...

Calma,

Paciência,

Alma, competência,

Amor!

Quão grande és : Professor!

Lidia Radke

O estranho

Perdoe-me!

Eu precisei do teu ombro,

Por dez minutos.

Não tinha onde inclinar minha cabeça.

Encostei-me mesmo sabendo...

Sabendo do teu espanto,

E, por má sorte manchei tua camisa de baton.

Já estou melhor!

O que são dez minutos

Dez minutos curandeiros de dores alheias.

Adeus bom ombro amigo.

Por um único instante na vida

Fostes meu porto seguro. Oh! Estranho!

Lidia Radke

?

Não quero saber

Se quando eu morrer

Vou por céu

Inferno

ou purgatório

Virar flor

Ou borboleta

Não quero saber

Se vou voltar

Como alemão

Aleijado

Ou negão

Não quero saber se vou pagar

Ou ter perdão

Só me interessa

Saber uma única coisa:

Tenho medo de morre sem antes descobrir

E ver inútil a minha passagem

Por aqui

O que é que eu vim fazer aqui? Heim?

Lidia Radke

Professora Huanita

Insisto que não é bem assim

Sobre a inutilidade de se jogar pérolas aos porcos.

É claro que serão mastigadas

Engolidas

Espezinhadas no lamaçal

Mas após um longo muito longo tempo

Espalhando-as

Com requinte e beleza

Encontrei uma ex-porquinha

Com um colar pérolas no pescoço.

Ela não grunhiu

Mas disse: “bom dia, professora. Prazer em revê-la”

Lidia Radke

Fernando Pessoa criou vários heterônimos que são personagens poéticas com identidade própria e estes heterônimos também eram compositores. Os mais conhecidos foram: Álvaro de Campos, Ricardo Reis, Alberto Caeiro e Bernardo Soares.

“Com uma falta de gente coexistível, como há hoje, que pode um homem de sensibilidade fazer senão inventar os seus amigos, ou quando menos, os seus companheiros de espírito”

“Tudo vale a pena se a alma não for pequena” - Fernando Pessoa

Vem sentar-te comigo, Lídia, à beira do rio Vem sentar-te comigo Lídia, à beira do rio. Sossegadamente fitemos o seu curso e aprendamos Que a vida passa, e não estamos de mãos enlaçadas. (Enlacemos as mãos.) Depois pensemos, crianças adultas, que a vida Passa e não fica, nada deixa e nunca regressa, Vai para um mar muito longe, para ao pé do Fado, Mais longe que os deuses. Desenlacemos as mãos, porque não vale a pena cansarmo-nos. Quer gozemos, quer nao gozemos, passamos como o rio. Mais vale saber passar silenciosamente E sem desassosegos grandes. Sem amores, nem ódios, nem paixões que levantam a voz, Nem invejas que dão movimento demais aos olhos, Nem cuidados, porque se os tivesse o rio sempre correria, E sempre iria ter ao mar. Amemo-nos tranquilamente, pensando que podiamos, Se quise'ssemos, trocar beijos e abrac,os e carícias, Mas que mais vale estarmos sentados ao pé um do outro Ouvindo correr o rio e vendo-o. Colhamos flores, pega tu nelas e deixa-as No colo, e que o seu perfume suavize o momento - Este momento em que sossegadamente nao cremos em nada, Pagãos inocentes da decadência. Ao menos, se for sombra antes, lembrar-te-as de mim depois Sem que a minha lembrança te arda ou te fira ou te mova, Porque nunca enlaçamos as mãos, nem nos beijamos Nem fomos mais do que crianças. E se antes do que eu levares o o'bolo ao barqueiro sombrio, Eu nada terei que sofrer ao lembrar-me de ti. Ser-me-ás suave à memória lembrando-te assim - à beira-rio, Pagã triste e com flores no regaço. – Ricardo Reis – Hetrônimo de Fernando Pessoa

Resposta de Lídia

Ricardo.

Porque você não me enlaçou na beira do rio?

Estávamos às sós.

Quisera que a tua lembrança me ardesse e me ferisse

Do que não tê-la.

Por que não enlaçamos as mãos... Os corpos?

O rio passou e eu... Triste pagã com flores no colo...

Oh! Ricardo, não gostei de sentar contigo à beira do rio

Sem sangue que pulsasse

E sem desassossegos.

De olhos parados na água corrente

qual dois doentes! A que me convidastes!

És um Pagão decadente. Nunca mais me convide a sentar-me contigo à beira do rio.

Eu, Lídia. Prefiro o Fernando que tem a alma grande e sabe que tudo vale à pena.

Lidia Radke

Endorfina

Quem é que sorri no trabalho?

O riso só brota na pausa.

Quem é que sorri na partilha?

O riso só brota em quem ganha.

Quem é que sorri quando reza

O riso só brota na piada.

Quem é que sorri na pobreza

O riso é maior na riqueza.

Riso?

Sexo,

Dinheiro,

Droga,

Vingança bem sucedida,

Desgraça alheia ...

São coisas que ativam a endorfina

E fazem você rir.

Felicidade? (hehehe) deve ser coisa do diabo.

Lidia Radke


Último Poema

Não tenho mais nada pra dizer,

A não ser que eu repita

Tudo que já foi dito.

E tornar-me-ei um “poetinha”

Prefiro o silêncio das idéias caladas

Tão fortes... Tão grandes

E que palavras pequeninas

Já não podem expressá-las

Direi-as num sonho...Num olhar...

E pensarás que elas são tuas

E te sentirás maior.

Maldigo as autorias

Pois elas privatizam as verdades.

Lidia Radke   

POEMA DE ESQUERDA


Dia e noite, e nas madrugadas de lua e de frio,

paro, quando o cansaço do dia me vence

e sigo quando o sono me fugiu…

e raia o sol e sigo a luta, que me pertence.



Nascer viver e morrer deve ser o destino

Mas, ha os que nascem e tem uma longa morte

Sem bandeira, sem pátria e sem hino

A minha direita, a minha esquerda, no sul e no norte.



Com medo desses famintos, com seus ódios e fel

com medo, que tomem lhes comidas e tesouros seus

Lhes disseram que a dor abre todas as portas do céu

Lhes disseram, que devem orar, jejuar e serão amados por Deus.



De dia e de noite pulsando em meu peito

a necessidade de sair de mim e sentir o alheio.

Todos eles são da minha espécie têm minha fala, o meu jeito

Mas, agonizam a margem, aí que feio, ai que feio!



A terra não é para criar seres maus

mas um lugar de paz justiça e “tudo de bom”

para que não nos espreitem com armas, facas e paus

arrancando nos a vida para comer o nosso pão.

Lídia Radke