Era uma vez uma jaca verde. Enorme!
Madura... Caiu do pé.
Mas ninguém a comeu. Nem homem nem bicho ...
Os dias passaram e uma bactéria surgiu.
Logo outra e outras...
Multiplicaram-se!
Viraram milhares!
Comiam da jaca e aumentavam...
Assustadoramente!
Tiveram que se organizar.
Formaram colônias,
Criaram leis...
Leis de bactérias.
Tinham famílias, ritos e até chefes.
Tudo funcionava microscopicamente bem.
Algumas bactérias, as mais espertas,
Descobriram outras matérias ao lado da jaca que habitavam
E migraram para lá.
Mas a maioria acreditava que nada mais existia além daquela jaca
O tempo passou e a jaca apodreceu.
E, todo aquele mundo bacteriológico organizado sumiu.
Quem garante que você e eu não somos bactérias
E que o mundo é apenas uma jaca?
Lidia Radke
Além de nós
Oh! Universo, que outras vidas escondes?
Quais suas essências?
Talvez seus corpos materiais sejam de gases,
Talvez só de ossos,
Ou uma espécie de celulose...
Comeriam massas, carnes ou frutas?
Beberiam alcooloides?
Teriam vícios?
Fariam sexo?
Sentiriam frios?
Dores... Amores?
Comunicar-se-iam?
Como?
Talvez balancem os rabos,
Poderiam ter rabos, não poderiam?
Quais suas leis?
O que farão errado e o que farão certo?
Quais suas drogas mais abomináveis?
Talvez fiquem ao lado de um monte de excremento
Por muitas horas __ com os olhos fixos...
Alguns conseguiriam largar o monte
Outros morreriam ao lado dele...
E por que iriam a esse monte de merda?
Por curiosidade, más companhias, solidão e outros seus motivos ...
E... Toda sociedade de bem talvez balance os rabos,
O que poderá significar: “o monte, nem morto!”
Talvez outros digam: “não dá nada, eu vou lá... olho para o monte e paro quando eu quiser.”
E alguns diriam: “é mais forte do que eu! Preciso ver o monte!”
OH universo! O que você esconde?
Talvez não escondes nada, além de nós, Somos a tua vergonha.
Onde já se viu, beber, cheirar, roubar, matar.
Ser humano? Melhor ser bicho.
Lidia Radke
Círculo vicioso
Certa vez, um velho,
Quis mostrar-me o caminho.
Há muito tempo,
Em outros ventos
Não confiei,
Fugi da lei.
Disse-me ele, tão convencido!
__ Não terás pedras, nenhum perigo!
Não confiei e lhe disse: __ Eu sei.
O velho homem perdi na mata.
E segui sozinho
O meu próprio mapa.
Corri,
Lutei,
Sorri,
Busquei,
Achei,
Perdi ...
Cheguei. Em fim.
Tão fatigado!
Estraçalhado,
Meio ferido,
Meio sarado,
Com dó de mim.
Pensei: Venci!
Foi então que eu vi o velho homem,
Num trono lindo!
Me olhando e rindo...
Disse-me assim: __ Lhe ensine os passos.
__Indicando a alguém
Era um menino atrás de mim
Eu entendi e também tentei,
Mas o menino, senhor de si
Disse-me: __ Eu sei.
Lidia Radke
Males dos Mundo
Pai! Afasta de mim esses males, Pai!
De preconceitos gigantes!
Quanta pobreza em mentes tão pequenas
Quanto vazio dentro desse peito
Meu Deus, porque não varreis para sempre
Entre as nações tanto preconceito ?
Quero que fique aqui registrado.
Que a igualdade é um direito nosso.
Sejamos brancos, pretos ou amarelos...
Ficar de fora, isso eu não posso.
O preconceito é um crime insano
Comportamento de quem é pequeno.
Sou diferente mais eu sou humano,
Não me rotules com o teu veneno.
Honre o teu jeito, gosto, tipo e credo.
De paradigmas pré-estabelecidos,
Também me chocas, mas eu não te nego!
Dois diferentes podem ser amigos. - Lidia Radke
Bate-Papo
Prefiro as conversas de velhas raposas.
Experientes,
Astutas...
Ainda que erradas,
Ainda que pecadas,
Adversas, atraem
Os fora-da-lei
Sabem muito mais!
Mais que eu,
Mais que os legais.
Com pena no peito,
Suporto o enfastio,
De um papo sombrio:
“Meu médico me proibiu....
“Me deu uma dor...”
“Senti um frio...”
“Cê viu a novela?”
“Meu marido adooooora chá de canela...”
“Mulheres sorridentes, mulheres “felizes”.
Tagarelas, estridentes...
Homens torcedores...
Camuflados em heróis onipotentes
Limitados seres.
Medíocres viveres.
Concordo, sorrio e penso:
Meu Deus como eu penso!
Prefiro os devassos,
Os loucos,
Os insatisfeitos,
Os poucos...
Aos crentes que acham tudo certo
Diante do caos.
Lidia Radke
Coluna Social
Quão sensacional é aquela página do jornal!
A “Coluna Social”
Sorrisos doces,
Ora autênticos,
Ora sexys.
Elegância, jeito de ser, presença marcante...
É assim que se escreve
Sobre essa gente.
No fundo é nada
É só fachada, é roupa alugada...
Ainda que pareçam “jacaroas”
Cheias de tédio porque vivem á toa
Na página, são rainhas
São fadas;
São princesas...siliconadas
De pele esticada.
Lidia Radke
Um cara
Eu conheço um cara,
Persona mui rara!
De pouca valia,
Até se diria.
Raro bate palmas,
Raro diz amém,
Sem ter gêmea alma,
Muito só e sem.
Se todos aplaudem a um ato comum,
O cara recusa,
Em ser só mais um.
Doutrinas, não prega
Nem nega,
Rejeita,
Aceita,
Sorri...
Não cede às campanhas,
É rês desgarrada,
Da grande manada
Qual não acompanha.
E sem parceria
Nesta excelência
O cara se fecha, Em sua magnificência!
Lidia Radke
Mulheres e Mulheres
Bondosas mulheres
Entregaram suas almas e corpos a Deus.
Foram puras e santas
E zelavam os seus.
Acalentavam amores eternos,
Enquanto bordavam e temiam infernos,
As nossas avós!
Como invejariam a nós!
Maldosas mulheres
Que se entregam ao homem do bem-me-quer
Somos amantes, esposas, amigas, mães e aquelas...
Enfim, mulher!
Zelamos os nossos também
E amamos eternamente
Enquanto o final não vem
Somos “comidas”
Mas, “comemos” também.
Lidia Radke
Dia Internacional da Mulher
Mulheres ! Nesse dia, que vos deram
Vos dizem: rainhas, guerreiras, flores perfumadas...
Ainda que tenham odores que espantam
Mas dizem que encantam.
Mulheres de todos os cantos
Dos cantos escuros também.
Quem são vocês?
Criaturas que colhem sementes
Com um estranho prazer entre as pernas
E aumentam os povos.
Lidia Radke
Receita de Mulher
Pega-se manteiga, ovos e um pouco de queijo
e faz-se o cabelo louro.
(Quem preferir cabelos castanhos adicione um pouco de caviar do Báltico.) Com duas azeitonas gregas faz-se os olhos.
Com um pouco de carne branca e duas xícaras de leite faz-se os seios.
Com raspas de cenoura faz-se as unhas.
Com ostras e grãos de romã faz-se o sexo.
Coloca-se em leito morno e vai-se virando lentamente até atingir o ponto. Come-se com um pauzinho.
Millor Fernandes
Receita de homem (Resposta a Millor Fernandes)
Mistura-se bem direitinho
Charme, inteligência e carinho
Um pitada de humor
Cheiro. (não verde) e calor.
Algumas gramas de safadeza no rosto
Pelos no peito... A gosto
Mexa bem. (sem colher) no pau
E espere a massa crescer
Põe em forno bem quente
Coma, como se come gente.
Lidia Radke
DECRETO-LEI AO POBRE HOMEM
As mulheres têm leis de amparo,
As crianças têm leis de amparo,
Os adolescentes,
Os idosos...
Todos são lembrados com dias
E protegidos por leis
E o homem?
O homem que deixou de ser adolescente
E ainda não é idoso
Quem o protegerá?
Deixam-no ao “Deus dará”
Pobre criatura!
Exigem dele a obrigação de ser forte,
Corajoso,
Imbatível,
Potente...
Tomam dele o direito às fraquezas humanas!
Que fique decretado:
Que todo homem tenha o direito de chorar,
De ter medo,
De ser bobo,
De querer colo...
Que fique decretado:
“Todo homem tenha o direito de broxar!”
Lidia Radke
Mamãe, eu quero casar!
Com um homem forte !
Que eu me sinta menina.
Que me dê ordens, me dite a sorte
Mas, me põe no comando,
E que eu trace sua sina.
Que tenha requinte, às vezes ... Profano.
Que seja erudito, mas diz palavrões.
Que goste Caetano
E compreenda Camões.
Que seja menino, menino pequeno.
Que me põe senhora, que me tenha respeito.
Que pareça casto, mas de certo obsceno.
e... Que mexa direito
Talvez o perdi, talvez não exista
Minh’ alma par – que tanto procuro,
Nos bares, nos bailes, na rua, na lista...
Quero encontrá-lo. Eu juro !
Lidia Radke
Esposa
Enjoei desta cozinha,
Das panelas, da farinha,
Desta louça, e suas figuras,
Com mulheres ouvindo juras
Em longos trajes, leques e luvas
Entre pilares envoltos a uvas.
São riquezas da vovó !
Quem herdou foi minha mãe
E as deixou pra mim sem dó
O que farei com esta tralha?
Tão pesada e me atrapalha,
Imposta por meu passado.
Casamento, boas maneiras,
Religião sem feiticeiras
Ser exemplo para os filhos
Plantar rosas, malmequer...
Chega!
Afrouxarei meus espartilhos
Eu só quero ser mulher!
Lidia Radke
O Incrédulo
Agora, o vento assopra ao meu ouvido.
Coisas estranhas, que até duvido.
Que o brasileiro só foge à luta
Que aquela freira, antes foi ... ,
Que aquela santa não faz milagre
Deve ser “coisa” de algum padre.
São tantas coisas que eu desconfio
Depois que o vento me descobriu.
Todo discurso é anti-ação
O que eles dizem... __ não creias não.
E esse vento que me balança
Vai me induzindo à desconfiança,
Com sua voz:
“__ Questione sempre! É o teu dever de ser pensante”.
Oh vento! Não me descobre,
Quão complicado é saber!
Queria mesmo é ser pobre
É tão simples, apenas crer.
Lidia Radke
O Poder
O poder ainda que podre,
Traz perfume à que o detém
Mas, empesteia o ar,
Dos bons, aqueles,
A quem o poder não convém.
Mesmo assim por onde passa
Arrasta,
Tantos,
Em mesquinhas intenções,,
De angariar para si e seus
Parte daquilo
Que o “perfumado” possui.
O poder ainda que podre
Tem cara de necessário.
Precisam da mão que impõe
Os tantos fiéis otários
Precisam da mão que “ajuda”
Da voz que manda calar
Da permissão à uma fala muda,
Do comando, precisam ...
E, por tantos assim existirem
É que o podre poder existe.
Muitos reclamam,
Alguns ficam tristes,
Ninguém faz nada,
Todos votam.
Lidia Radke
Pátria amada
Oh! Pátria amada!
Idolatrada!
Mãe gentil...
Continuas sendo amada, idolatrada
Embora, pouco gentil
Mais pareces uma mãe desnaturada,
Que descrimina os filhos.
Alguns tu afagas, acolhes, alimentas...
Outros, abandonas com fome ao relento
Oh! Pátria amada!
Salve, salve... Sem rodeios
__Foi nisso que te transformamos
Os teus filhos malcriados,
Os brasileiros
Lidia Radke
História Infantil
Sua história foi curta,
Comum e sem graça.
Era filho da senhora “mãe pobre”
E do senhor “ignorado”.
Não ganhou presentes, passeios...
Nem abraços.
As únicas portas que se abriram para ele
Foram as portas da escola
Ele até entrou... Mas, virou as costas para a sua única salvação.
Depois vieram as drogas, a polícia, os bandidos e a morte.
“Eta vidinha a toa”
Lidia Radke
Alegria, Alegria
Fostes posto nesta vida
Onde há ventos contrários.
Em meio a lindos cenários
Caracterizaram-te: “alegre”
Teu caminho é brilhante
Mas a emissão não é sua
Caracterizaram-te: “alegre”
É melhor para esta rua.
Entre partidos e planos
E presidentes fulanos
Caminhas entregue.
E... Caracterizaram-te: “alegre”
De tanto ver
De tanto não ler
De tanto ouvir
Cansas-te. Melhor é rir.
Viestes de vãos amores
E teu peito também os tem
Sonhas flores e cores
E plantas “alegres ninguéns”
Nesta rua, não tem escola.
Apenas pontos e botecos
Vendem “balas”, “coca”. “Cola”
Alegres corpos objetos
Uma canção te embala
Sem adereço, sem endereço...Sem paradeiro
Mas, quem quer te encontrar?
Alegre brasileiro.
Lidia Radke
Mudando o Destino
Nasceu de madrugada e o chamaram zé
Não teve pediatra nem exame do pé
Chorou a noite inteira, ninguém teve dó
Não teve mamadeira nem um peito só
Cresceu de teimosia ou então por Deus
Sem muitas alegrias nem brinquedos seus
Amou desesperado a esse tal de pai
Que lhe deixou sozinho com a palavra ai.
Chegou a uma escola pois queria ler
Dois livros na sacola ele veio a ter
Sentiu que sua chance só estava lá
Tão simples e ao alcance feito a sua pá
Meninos revoltados querendo bater
Não quis perder seu tempo e tratou de ver
Sorriso contra o vento e ele pode crer
Que um sábio e grande homem poderia ser
Lidia Radke
Moradia
Pra não sentir o frio do vento.
Morei na caverna e na gruta
Meu raciocínio era lento
Minha fala era bruta
Minha tinta era sangue,
Meu corpo em pelos sem vestes
Meu gosto tão rude e parco
Minha arte era rupestre
Na companhia do tempo
Meu pensamento acionei.
Dominei os meus instintos
Cozinhei minha comida
Tomei banho, fiquei limpo
E sonhei com a minha casa
Mas a proteção ao frio, à chuva e ao calor
Já não me bastam
Quero ir além.
Quero sentir e ver
E ver me faz sentir
Meu gosto refinou, é bom.
Decoração já não basta.
Quero arte. Lidia Radke
“Deprê”
Num desses dias em que se chora em vão,
Quando as esperanças e sonhos se vão,.
Eu me sentia engolida por uma vão
De camisa sem manga,
Num amarelo-manga,
Molhado de chuva de manga.
Vi que estava em desalinho,
Botei o meu terno de linho,
E de cigarro...Nesse alinho.
Fumo, mas não trago,
Comigo nunca os trago,.
Pois custam mais que um trago
E, já parecia estar bem,
Pra quem perdeu o seu bem,
O meu maior bem.
Esbarro em sinais de alerta,
Por gente querendo oferta,
Entro numa porta aberta,
Música chamada som,
Que na verdade barulhos são,
De enlouquecer quem é são.
Vou pra casa,
Comigo não casa,
A atmosfera desta casa.
Tudo são experiências,
Que falam num momento mudo,
Dando a consciência
De que eu sobrevivo a tudo.
Lidia Radke
Era uma vez...
Era uma vez um homem,
Muito sério!
Muito trabalhador,
Muito competente...
Muito sério!
Ele morreu de dor de barriga.
Era gastrite,
Que virou ulcera,
Que virou câncer.
Que sina triste!
Comentou indignado, um outro homem.
Muito alegre !
Um pouco competente,
Um pouco trabalhador,
Muito alegre!
Lidia Radke
O Pescador (Prêmio de Primeiro lugar em concurso literário)
Pesquei um peixe somente
Dormi na areia macia
Sorri e olhei o mar
Dá-me pena dessa gente
Que morre de trabalhar
Acaso querem que eu pesque
Bastante, para vender
Que eu faça algo que preste
Além de pescar pra comer.
Ganhar dinheiro aos montes
Comprar barcos e navios
Conquistar horizontes
Aumentar os meus brios
Que eu contrate por fim
Um gerente de confiança
Que se estresse então por mim
Cuidando a grande herança.
E tendo apodrecido
Pois podre de rico se diz
Poderei dormir e folgar
E serei um homem feliz
Acaso não veem os homens
Que o sol é meu
O mar é meu
E a areia é macia?
E ninguém, come mais que um peixe por dia.
Lidia Radke
Destino Inútil
Fostes o senhor do pão de alguns
Ganhastes a coroa de pedras azuis
Ouvistes o teu nome em coro
Aplausos pela tua passagem de nobre
Todos os teus pertences banhados a ouro
Mas tua alma pequena e pobre
Festas de velhos vinhos
Luzes em tom lilás
Mas nenhum show de passarinhos
E nenhum arco-íris fugas
__ Que oferta nua!
Sem tardes de outono
Sem noites de lua
Sem chuvas
Sem ventos
E sem cura pros males...
Então, o que tens para dar, companheiro?
__ Dinheiro, dinheiro, dinheiro...
__ Que pena! Não vale.
Lidia Radke
Futuro?
Nem sabemos se vamos dançar a valsa
Nem mesmo se haverá orquestra
Para que, pois, ensaiar os passos?
Melhor mesmo é a dança sem coreografia
Melhor mesmo é não prometer amor eterno
E amar todos os dias
Para que encher celeiros e temer invernos
Se o frio congela as dores?
Estamos sozinhos na noite escura
Porque queremos
Afinal, temos uns aos outros .
E cada qual a sua lanterna .
Lidia Radke
Meu amigo poeta
Meu amigo poeta
Queres que o mundo o compreenda?
Tola pretensão
Você fala noutra língua
E prega o abstrato... Os sentimentos!
Para uma massa incrédula que precisa tocar
Sentir na mão,
Guardar na mala
No cofre...
E como trancar a poesia em cofres?
Ela foge, escapa..
A procura de ouvidos.
Então não a querem
Preferem o ouro e a prata
Ainda que surdo e pesado.
Meu amigo poeta
Não quisestes o garimpo,
Então serás incompreendido.
Lidia Radke
Sem título
Talvez a liberdade seja uma mentira
E o meu sangue apenas água vermelha
E então não pulsaria e nem grades me incomodariam
Talvez...
Mas, tenho o fogo no sangue
E o vento no peito, numa eterna procura!
E enquanto eu não encontrar
Estarei sempre buscando um caminho novo
E o meu peito a beira de uma explosão.
Lidia Radke
Genealogia
Certidão de nascimento do meu tataravô Silva
Certidão de óbito do meu tataravô.
Certidão de nascimento do meu bisavô Santos Silva
Certidão de óbito do meu bisavô
Certidão de nascimento do meu avô Oliveira Santos Silva, ladrão de cavalos
Certidão de óbito do meu avô.
Certidão de nascimento do meu pai Von Braun Silva
Certidão de óbito do meu pai.
Minha certidão de nascimento Von Braun Júnior
Certidão de nascimento do meu filho, Juninho Hacker
Ele “puxou” o bisavô .
Lidia Radke
Poemeco pobre
É segunda feira cedo!
Dia do cabisbaixo coletivo
Com pouca vontade e com medo
Você destila teu eu negativo
Querias estar nas montanhas
Sem chefe, sem carro, sem dor...
Ou num voo para Alemanha
Ao lado de um grande amor!
Acorde! É segunda feira!
Pode ser um dia feliz
Pare de pensar tanta besteira
O sinal abriu... Tire o dedo do nariz!
Lidia Radke
Conversa de bar
Minha amiga,
Do canto especial desse peito!
Desse peito que, não sei o porquê, resolveu bater mais forte
Com singularidade, faz-se a minha parceira:
Nas prosas filosóficas,
Na busca do autoconhecimento,
Na discussão sobre as bruxas e seus poderes,
Se o universo expande ou contrai
Na descrição do homem ideal...
Te empenhastes.
Me empenhei.
A descobrir o que queremos.
Esforços em vão.
E como sempre
Acabamos nesse riso desatinado e lacrimejante
Debochadamente gostoso, maldizendo aos homens,
Numa homenagem cheia de gratidão,
Pelos momentos de glória, prazer e amor...
Que unicamente eles podem proporcionar.
Minha amiga:
Peça a saideira
O garçom quer dormir
Amanhã é segunda-feira.
Lidia Radk
O Pote Chinês
“O pote tanto vai à bica, que um dia lá fica”
Esse pote chinês veio, veio, veio...
Mas não ficou.
Quebrou? __ Talvez.
Trincou, se tornou vaso?
A bica, não fez caso.
Continuou jorrando água cristalina
E o pote, no fim voltou pra China;
Onde ele nada vale.
Lidia Radke
Vida
Cá estamos neste barco
Chamado vida
Numa maré, ora mansa, ora alta...
No mesmo ponto de partida.
Senhor dos ventos e do mar!
Por que estou a remar?
Por acaso ou por azar ?
___ Remas por euforia
Mas, remas mesmo, por teimosia.
Descobrir o sentido da vida
É o nosso maior desafio.
Pergunta que é feita
Enquanto não percebermos
Que a felicidade é o equilíbrio constante
Entre a dor e a satisfação.
Explosões de euforia, são armadilhas
Que a tristeza coloca diante da sua porta
Para que entres e chores.
Lidia Radke
Homem Bobo
E o menino espera, na certeza
Que grandes coisas aconteçam
Namorar Ana Tereza
Tão logo as barbas cresçam
Vive em inútil esperança
Por muito que não acontece
Todo dia! Não se cansa
Pra ajudar: Uma prece
E o menino (já nem tanto)`
Às vezes até em pranto
Pergunta: __ Meu Deus por quê?
As coisas que espera em vão
Estão todas em suas mãos
E ele não faz acontece
Lidia Radke
Poema do café
“Café com pão
Café com pão
Café com pão”
Foi assim que Bandeira definiu
O som das locomotivas à vapor
Café!
Café nosso de cada dia!
Será que temos consciência
Da sua real importância?
Talvez...
Mas talvez pensemos que não seja tão importante.
Que passemos sem ele, se for o caso
Não mata fome
Não custa caro
Está sempre ao nosso dispor
Em qualquer lugar
Um chazinho
Um xarope
Um suco quente...
Ou sei lá em qual categoria dos líquidos ele se enquadra
Talvez não se enquadre
Por ser único
Simplesmente singular
O nosso café!
Respondam:
Nada mais tentador
Irresistivelmente
Aconchegante
Que um convite para um cafezinho.
“___ Vamos tomar um cafezinho?” Café com pão, café com pão, café...
Lidia Radke
Minha filha Indira
Embalei-te em meus braços
E ouvi tua fala de choro e risos
Cresceram cabelos, molares e sisos
E pela mão te levei.
Fiquei de joelhos para beijar-te o rosto
Inclinei o corpo num abraço
Caminhamos lado a lado
E hoje nas pontas dos pés te beijo.
Você cresceu, ficou moça,
Você mudou, tens teus sonhos,
Nos conflitos ainda chora.
O que não mudou, mas cresceu,
É o nosso amor.
Amo-te como criança, mesmo tu sendo senhora.
Lidia Radke
Minha Filha Huanita
Baton que passa,
Retoca e reboca.
A boca rosada de rosa formosa.
Os olhos...
Brilhantes demais!
Diamantes?
Ou contas?
Ou gostas?
Cristais...
Senhora tão dona,
De si e de tudo,
Parece mulher.
Menina chorona.
Que sabe e não sabe , as coisas do mundo
Mas sabe o que quer.
Que corpo sem molde!
Tão levemente se nota
A graça que brota.
O peito palpita, mas reage felino:
__Que estranho! Não gosto.
Odeio menino.
Lidia Radke
A VÉSPERA
Não espere que o dia D seja bom.
O prazer terás na véspera.
Aproveite!
A expectativa é a melhor parte
Os fatos em si não têm graça
Excitante é a véspera da festa
Do domingo
Do encontro
Da lua-de-mel
Do natal
Do ano novo...
Esperar pela alegria
É a felicidade
Espertas são as mulheres que passam a vida esperando o príncipe encantado,
Achá-lo é perder o encanto.
Lidia Radke
SE EU FOSSE UM PADRE OU UM PASTOR
Se eu falasse em Deus em nome de qualquer religião
Mandaria o povo cantar, Pregaria a liberdade
Gritaria dos púlpitos:
---Libertem-vos da culpa!
Da opressão!
Do medo!
De empregos que sufocam!
De casamentos falidos !
Dêem as costas aos amigos oportunistas!
As religiões que se vendem !
Através de ofertas, dízimos, relíquias, amuletos e outras espécimes!
Dêem as costas às que prometem bênçãos e sorte em troca da filiação!
Libertem-vos do Deus que castiga!
Abracem as coisas nobres!
Aquelas que dão sentido!
Abracem a certeza de que estão aqui por uma missão!
E cumpram-na
Com muito amor a todo próximo.
O pai, o irmão, o vizinho, o colega, o cão, a árvore, o rio, o pássaro, a formiga, o vento, a chuva...
Só assim estarão perto do Deus verdadeiro!
Lidia Radke
Dizia, meu pai:
Se todas as árvores fossem uma,
Se todos os rios fossem um,
Se todos os machados fossem um,
Se todos os lenhadores fossem um,
E, esse grande lenhador pegaria esse grande machado.
E cortaria essa grande árvore que cairia nesse grande rio...
Que tal o estrago? H a há há há .....
Lidia Radke
Relatório – Viagem á terra
__ Como está a terra soldado?
__ Os terráqueos simplificaram e facilitaram suas vidas. O planeta está cheio de colônias onde eles se abrigam e as colônias são ligadas umas nas outras por passadeiras por onde trafegam com máquinas automotivas.
__Da última vez que lá estive, um dos grandes chefes era um tal de Nero, ele continua por lá?
__ Não ouvi nada sobre este, mas acho que o maior de todos no momento, é um certo Obama, eu acho. Tem outros , mas este parece ser o mais famoso.
__ Eles continuam se matando?
__ Continuam.
__ Por esporte em arenas, um contra um? Coisa horrível!
__ Não. Nas arenas, agora são doze contra doze. Não se matam, ao contrário existem regras de proteção. Todos correm atrás de um objeto esférico o qual tocam com os pés, fazem-no rolar de forma que este entre numa espécie de portal, onde tem um guardião. Mas se este guardião não proteger o portal e o objeto esférico entrar... A plateia vibra.!
__ A plateia vibra!? Sem morte e sem sangue? Apenas com um objeto redondo que cruza um portal? Quem diria!
__ Tem um que foi até aclamado rei, por que sabia como ninguém rolar este objeto. Acho que o nome dele é Maradona... Não, desculpe, não é esse o nome, é... Pelé! Isso mesmo, Pelé!
__ Rei? Por brincar com uma bolinha? Esses terráqueos!
Lidia Radke
“Poetar” é preciso
Poema, paródia, soneto...
Parece até masoquismo!
Verso, estrofe, terceto...
E diz se: “__ Poetar” é preciso!
Procure esquecer esses tais
E as regras do tido padrão
Pra que luxos gramaticais ?
Se com P escrevo Paixão!
Se te falta vocabulário
Use aquele que é teu
Não se encontra em dicionário
A emoção que Deus lhe deu.
Fale de amores eternos,
Pense como adolescente,
Primaveras e invernos,
Estrelas e sol poente.
Tem poeta que diria: mácula,
Você pode dizer sujeira.
É como vampiro e Drácula
Igual, mas de outra maneia.
Busque os teus sentimentos
E um pouco de idiotismo.
Pois mesmo contra o vento,
Lhe digo: “Poetar” é preciso.
Lidia Radke
História do Brasil ( Prêmio de primeiro lugar em concurso literário - período -1990)
“Diretas já” blá blá blá, blá blá blá...
Privatizar! Sim sim sim... não não não...
Impeatchment já!
Blá blá blá, blá blá blá...
Presidencialismo
Parlamentarismo
Lismo, rismo, ... sinismo!
Dim dim dim, dom dom dom...
Constituição, revisão...
Adolescência!
Violência!
Indescência... todo dia!
Criança esperança!
ECA que utopia!
Blá blá blá, blá blá blá...
PMDB, PC, PSDB, PT..
P de povo
Sem terra
Sem educação
Na guerra
Pelo pão!
Lidia Radke
Professor
Tens nas mãos o futuro das gente !
Rebeldes, bloqueados, comportados, marotos...
Ávidos, independentes, dependentes garotos!
Poucos passos de um caminho comprido
Indicas, explicas, estruturas,
Para o que tem que ser cumprido
Processo Ensino X Aprendizagem
Viajem coragem!
Que permitam
Governos, prefeitos
E farás bem feito
És mãe, palhaço, psicólogo, ator...
Calma,
Paciência,
Alma, competência,
Amor!
Quão grande és : Professor!
Lidia Radke
O estranho
Perdoe-me!
Eu precisei do teu ombro,
Por dez minutos.
Não tinha onde inclinar minha cabeça.
Encostei-me mesmo sabendo...
Sabendo do teu espanto,
E, por má sorte manchei tua camisa de baton.
Já estou melhor!
O que são dez minutos
Dez minutos curandeiros de dores alheias.
Adeus bom ombro amigo.
Por um único instante na vida
Fostes meu porto seguro. Oh! Estranho!
Lidia Radke
?
Não quero saber
Se quando eu morrer
Vou por céu
Inferno
ou purgatório
Virar flor
Ou borboleta
Não quero saber
Se vou voltar
Como alemão
Aleijado
Ou negão
Não quero saber se vou pagar
Ou ter perdão
Só me interessa
Saber uma única coisa:
Tenho medo de morre sem antes descobrir
E ver inútil a minha passagem
Por aqui
O que é que eu vim fazer aqui? Heim?
Lidia Radke
Professora Huanita
Insisto que não é bem assim
Sobre a inutilidade de se jogar pérolas aos porcos.
É claro que serão mastigadas
Engolidas
Espezinhadas no lamaçal
Mas após um longo muito longo tempo
Espalhando-as
Com requinte e beleza
Encontrei uma ex-porquinha
Com um colar pérolas no pescoço.
Ela não grunhiu
Mas disse: “bom dia, professora. Prazer em revê-la”
Lidia Radke
Fernando Pessoa criou vários heterônimos que são personagens poéticas com identidade própria e estes heterônimos também eram compositores. Os mais conhecidos foram: Álvaro de Campos, Ricardo Reis, Alberto Caeiro e Bernardo Soares.
“Com uma falta de gente coexistível, como há hoje, que pode um homem de sensibilidade fazer senão inventar os seus amigos, ou quando menos, os seus companheiros de espírito”
“Tudo vale a pena se a alma não for pequena” - Fernando Pessoa
Vem sentar-te comigo, Lídia, à beira do rio
Vem sentar-te comigo Lídia, à beira do rio.
Sossegadamente fitemos o seu curso e aprendamos
Que a vida passa, e não estamos de mãos enlaçadas.
(Enlacemos as mãos.)
Depois pensemos, crianças adultas, que a vida
Passa e não fica, nada deixa e nunca regressa,
Vai para um mar muito longe, para ao pé do Fado,
Mais longe que os deuses.
Desenlacemos as mãos, porque não vale a pena cansarmo-nos.
Quer gozemos, quer nao gozemos, passamos como o rio.
Mais vale saber passar silenciosamente
E sem desassosegos grandes.
Sem amores, nem ódios, nem paixões que levantam a voz,
Nem invejas que dão movimento demais aos olhos,
Nem cuidados, porque se os tivesse o rio sempre correria,
E sempre iria ter ao mar.
Amemo-nos tranquilamente, pensando que podiamos,
Se quise'ssemos, trocar beijos e abrac,os e carícias,
Mas que mais vale estarmos sentados ao pé um do outro
Ouvindo correr o rio e vendo-o.
Colhamos flores, pega tu nelas e deixa-as
No colo, e que o seu perfume suavize o momento -
Este momento em que sossegadamente nao cremos em nada,
Pagãos inocentes da decadência.
Ao menos, se for sombra antes, lembrar-te-as de mim depois
Sem que a minha lembrança te arda ou te fira ou te mova,
Porque nunca enlaçamos as mãos, nem nos beijamos
Nem fomos mais do que crianças.
E se antes do que eu levares o o'bolo ao barqueiro sombrio,
Eu nada terei que sofrer ao lembrar-me de ti.
Ser-me-ás suave à memória lembrando-te assim - à beira-rio,
Pagã triste e com flores no regaço. – Ricardo Reis – Hetrônimo de Fernando Pessoa |
Resposta de Lídia
Ricardo.
Porque você não me enlaçou na beira do rio?
Estávamos às sós.
Quisera que a tua lembrança me ardesse e me ferisse
Do que não tê-la.
Por que não enlaçamos as mãos... Os corpos?
O rio passou e eu... Triste pagã com flores no colo...
Oh! Ricardo, não gostei de sentar contigo à beira do rio
Sem sangue que pulsasse
E sem desassossegos.
De olhos parados na água corrente
qual dois doentes! A que me convidastes!
És um Pagão decadente. Nunca mais me convide a sentar-me contigo à beira do rio.
Eu, Lídia. Prefiro o Fernando que tem a alma grande e sabe que tudo vale à pena.
Lidia Radke
Endorfina
Quem é que sorri no trabalho?
O riso só brota na pausa.
Quem é que sorri na partilha?
O riso só brota em quem ganha.
Quem é que sorri quando reza
O riso só brota na piada.
Quem é que sorri na pobreza
O riso é maior na riqueza.
Riso?
Sexo,
Dinheiro,
Droga,
Vingança bem sucedida,
Desgraça alheia ...
São coisas que ativam a endorfina
E fazem você rir.
Felicidade? (hehehe) deve ser coisa do diabo.
Lidia Radke
e raia o sol e sigo a luta, que me pertence.
A minha direita, a minha esquerda, no sul e no norte.
Lhes disseram, que devem orar, jejuar e serão amados por Deus.
a necessidade de sair de mim e sentir o alheio.
arrancando nos a vida para comer o nosso pão.